As coisas não iam bem para a Joyce e a Selma. Um orçamento apertado, negócio capengando e o fluxo de caixa no vermelho. Realmente o cenário assustava. Mas elas não poderiam se deixar abater e continuavam a colocar toda sua energia na sociedade empresária.
Irmãs e muito amigas, as duas sempre davam muita força uma a outra e, mesmo nos momentos mais difíceis, a consciência emocional era sempre a chave fundamental no papel de apaziguar e não deixar que brigas por motivos fúteis fizessem o império da consultoria educacional construído pelas duas ruir.
O modelo de negócio consistia em uma consultoria para escolas privadas, que atendiam principalmente as classes C e D, com objetivo de alavancar seus negócios utilizando um sistema de financiamento governamental que existia na época. Marketing, contabilidade e todo o esquema para fazer aquele dinheiro público sair dos cofres do governo para o caixa da escola, via endividamento do estudante e deixando para elas uma boa margem na taxa de eficiência acordada.
Tudo lícito e honesto até aqui. A fatia do bolo costumava a ser gorda. Até que a economia do país começou a não ir tão bem. Tempos antes, o governo se posicionou keynesianamente fomentando a economia em vários setores. Hipotecavam as hipotecas. Passou de algo que era uma maravilha, até o colapso inevitável que começou a bater a porta.
Em uma viagem a uma cidade vizinha para atender mais uma empresa, as irmãs seguiam tranquilamente pela estrada quase deserta. Elas haviam pegado um caminho alternativo para fugir do trânsito. Mas como quase toda história de terror (ainda que essa seja burlesca) o pior aconteceu!
Ao fazerem uma curva, Joyce, que estava ao volante, até que tentou evitar o acidente que seria provocado por um caminhão invadindo a pista na contra mão. O carro rodou 3 ou 4 vezes e capotou – não me lembro! – disse Joyce ao acordar na maca e continuou:
– Onde estou?
O médico respondeu enquanto era empurrada por um enfermeiro alto, negro e forte:
– Você está saindo do bloco cirúrgico – disse o médico friamente seguido de um silêncio como quem preparava a pior notícia. Acompanhado por uma enfermeira com uma prancheta na mão e com ares de preocupação, continuou sem rodeios – tivemos que amputar seu braço e sua irmã Selma não resistiu.
Como quem via o mundo desabar, Joyce sentiu-se sem chão. Além de não sentir muito mais nada por conta da anestesia que ainda estava fazendo efeito.
Em outro lugar, na delegacia, o motorista do caminhão, que foi identificado por testemunhas do acidente, se deu mal. Anos mais tarde ele pegou 9 anos de cana por dirigir bêbado. Um para cada dedo da mão (ele não possuía o dedo mindinho). A pena foi aumentada em segunda instância.
Luís da Silva, o Mula, como era conhecido, era considerado um dos melhores caminhoneiros da história das estradas, pois fez entregas mais rápidas e eficientes como nunca antes da história desse pais alguém já tinha feito. O Mula transportava muito rápido e era ótimo no que fazia, mas além do hábito de uma cachaça da boa, ele era também famoso por se vangloriar de seus atos. Vendia seu trabalho muitas vezes supervalorizando-o, mesmo quando outros motoristas mais antigos é que haviam indicado o caminho.
Ele não era perfeito e, por conta da cachaça, errou naquela curva. Fodeu com a vida da Joyce e da Selma, principalmente da Joyce, que ficou viva para sofrer a perda da irmã, do braço e do carro, que estava sem seguro devido à crise que elas estavam passando.
Mas Joyce era guerreira e não desistia nunca. Tinha a oportunidade de recomeçar uma vida nova, pois foi eleita deputada por toda sua história comovente e motivadora. Mas acredite, mesmo depois de tudo que sofreu, Joyce, sem carro, sem braço, sem irmã e com essa oportunidade na mão, não pensava em mais nada na vida, pois estava fixada em dizer:
– MAS E O CAMINHONEIRO?!